A técnica do PACE por Nick Ienatsch

O artigo abaixo foi escrito por Nick Ienatsch, na Motorcyclist Magazine, em 1991, com uma revisão e re-publicação em 1993. Embora algumas das informações possa parecer antigas, achei que algum dos princípios não têm data de validade e decidi traduzir e postar para os amigos Fala um pouco sobre técnica de pilotagem, mas o ponto principal é a atitude. Nos poucos passeios que fui com a galera do SOL, percebi que a galera já faz isso, então achei que fossem se identificar.

Vou colocar o texto como primeiro "reply" para ocupar menos espaço caso haja mais de uma página de comentários.

Abs

O Pace - por Nick Ienatsch



“Condução esportiva” envolve velocidade, concentração e empenho, os resultados de um erro geralmente são catastróficos, e normalmente há pouca margem para correção do erro por completo. A “Condução de Rua” por definição é menos intensa e mais longe do limite absoluto, porém, porque as circunstâncias são menos controladas, os erros e exageros podem ser igualmente catastróficos. Muitos corredores de autódromo juraram não andar forte nas ruas: "É muito perigoso, muitas variáveis e muito fácil de se deixar levar pela velocidade”, dizem alguns especialistas em autódromo. Alguns corredores de rua, bombados por adrenalina, tratam a rua como autódromo, e se vêem acometidos pela polícia, pelas leis da física e pela dura e fria realidade de um ambiente não preparado para velocidade. Mas como muitos de nós sabemos, um passeio rápido pela estrada favorita pode ser a melhor maneira de gastar algumas horas livres com a moto que amamos. E essas horas são melhor apreciadas se pilotadas no “PACE” (ritmo).



Um ano depois me juntei à equipe de Motociclismo, em 1984, Mitch Boehm também foi contratado. Seis meses depois, o PACE surgiu, e passamos a aperfeiçoá-lo durante os próximos meses, testando-o em estradas e nos divertindo em passeios de fim de semana. Agora o PACE é parte da minha vida - e parte da manhã do meu domingo, pilotando ao lado do grupo de amigos que eu freqüento. O PACE é uma técnica de rua, que não só mantém os pilotos de rua vivos, mas completamente satisfeitos também.

O PACE


O Pace foca o controle da moto e não velocidade final. Cabo enrolado e frenagem de última hora não são parte do programa, efetivamente eliminando os dois cenários mais comuns de acidentes na Condução Esportiva. Dinâmica em curva é o nome do jogo, focando na pegada vigorosa e precisa no guidão para posicionar a moto corretamente na entrada da curva, e dar a “chicotada”, usando o menor tempo e distância possível. Como o acelerador não é martelado na saída da curva, a próxima curva praticamente não requer frenagem. Não é incomum andar com o nosso grupo e não ver sequer uma piscada de luz de freio durante toda a manhã.



Quando os freios são necessários, aperta-se levemente o freio dianteiro, pelo tempo e força o suficiente para definir a velocidade adequada de entrada na curva, tudo da forma mais rápida possível. Correr encima dos freios, equivale a correr fora do traçado, delatando que vc está forçando a barra, e não está sabendo colocar a moto na velocidade exata para de entrada na curva, e que ficou acelerando mais tempo que devia. Se vc anda no PACE, vc minimiza sua dependência do acelerador e dos freios, os dois controles mais fáceis de se abusar, e afina a sua capacidade de julgar a velocidade em curva, que é o aspecto mais emocionante da “Condução de Rua de Alto Desempenho”.



A PISTA É SEU LIMITE


Cruzar a linha central da pista, a qualquer momento, exceto durante uma manobra de passagem é intolerável, um outro sinal de que você está se esforçando muito para acompanhar o grupo. Mesmo quando você tem uma linha clara de visão da pista da esquerda, fique à direita da linha central. Acompanhar as curvas do lado direito da linha central é muito mais desafiador do que simplesmente tangenciar as curvas de qualquer jeito. Quando todo o grupo compromete-se com esta inteligente prática, a tentação de um superar ao outro é eliminada pela própria pressão dos colegas e pela lógica. Apesar da Condução de Rua não dever ser descrita como “corrida”, você pode chegar a imaginar que a estrada é a pista de um autódromo. Imagine que sair do traçado equivale a um acidente.

O Controle exato da moto requer o uso calculado de cada centímetro da sua pista, se as circunstâncias permitirem. Nas curvas com uma linha de visão clara e sem tráfego contrário, entre no canto exterior da curva, tombe a moto relativamente tarde na curva, quase resvalando a linha externa da curva na saída, ao endireitar moto. Vire a moto com vigor, porém suavemente para minimizar o tempo de transição. Não deite e levante a moto de qualquer jeito, pois o chassis poderá balançar mais, possivelmente te tirando do traçado. Como vc não freou, vc poderá aumentar a aceleração cedo na curva, antes mesmo de endireitar, o que te dá um maior equilíbrio e controle para sair da curva.



Na maioria das vezes, as circunstâncias não permitem a plena utilização da sua pista, da linha amarela para a linha branca e de volta. Cantos cegos, tráfego contrário e cascalho na estrada são alguns critérios que ditam uma abordagem mais conservadora, por isso deixe-se cerca de um metro de margem de erro, especialmente no lado esquerdo da pista onde eventuais desvios do tráfego contrário podem ser fatal . Basta estreitar seu traçado nas curvas com pontos cegos, ficando mais ao centro da pista para minimizar o tempo que vc não vê o tráfego contrário. Como vc está correndo no PACE, e não de forma descontrolada, seu controle de entradas te oferece tempo adicional para lidar com cascalhos e outras sujeiras na sua pista, Em pista suja, use o traçado da roda externa dos automóveis, pois é normalmente mais limpo, pois carrega mais peso, esfregando mais a sujeira.



BOM LÍDER, SEGUIDORES BEM-DISPOSTOS



A rua não é um ambiente de corrida, e é preciso humildade, autoconfiança e auto-controle para mantê-lo dessa forma. O líder estabelece o ritmo e monitora pelos retrovisores sinais de rebeldia nas fileiras que o seguem, como ficar zigue-zagueando dentro de retas, cruzar a linha amarela e ficar de pendurado fora da moto em curvas. Se o líder se afasta, ele simplesmente diminui sua velocidade nas retas, porém sem deixar de aproveitar as curvas, desta forma, diminuindo a diferença para os que vêm atrás, sem abrir mão da diversão. No meu pequeno grupo de amigos, é tão harmonioso que o ritmo é o mesmo, não importa quem é o líder. A liderança muda ocasionalmente, com um mero sinal de mãos, mas nunca há uma ultrapassagem do líder com o ego nas mãos. Não se engane, a tocada é apimentada e rápida – nas curvas. Qualquer pessoa com um braço direito pode enrolar o cabo nas retas, mas é a habilidade nas curvas que alimenta o PACE. Se as distâncias entre os membros começam a aumentar, e existem retas, conduza a velocidades moderadas - a oportunidade perfeita para ajustar as diferenças. Mantendo uma boa distância do colega é desejável por várias dimensões: é mais seguro, evita-se o arremesso de pedrinhas que estragam a pintura, e os policiais não suspeitarão de racha. O estilo do PACE não é de se pendurar para fora das motos nas curvas. Isso reduz a aparência de exagero, e adiciona um grau de maturidade e sensibilidade nos olhos do público e da lei. Há um desafio interessante em se fazer curvar rápidas, enquanto viaja tranquilamente na sua motocicleta.



A doutrinação de um piloto ao PACE leva algum tempo pois a técnica visa desenvolver alta velocidade durante as curvas e os recém-chegados buscam, ao contrário, enrolar o cabo nas saídas para compensar o que eles perdem nas entradas. O nosso grupo diminui drasticamente a velocidade quando um novato se junta à tropa, porque a nossa técnica de velocidades moderadas nas retas, sem uso de freio pode sugar o desavisado para fora da curva fácil, criando o acidente “solo” mais comum. Quando há um novo colega no grupo, normalmente tocamos o freio levemente antes da curva, só para avisa-lo, e ter certeza que ele entenda que não há pressão para ficar com o grupo.

Há uma muita comunicação entre o grupo durante o PACE. Um pé fora da pedaleira indica detritos na estrada. Intenções de redução de velocidade, ou conversões são sinalizadas com o braço e mão esquerda. As setas são utilizadas para mudanças de direção e ultrapassagem, com um aceno da mão esquerda para agradecer aos carros que movem para a direita para facilitar a passagem aos motociclistas. Como sua mão esquerda não funciona como uma abraçadeira no guidão, ela pode estar solta para vc cumprimentar outros motociclistas vindos no sentido inverso, uma cortesia que a maioria de nós gosta de ver retribuída. Se vc está tendo a sensação de que o PACE é uma forma não competitiva e relaxante de pilotar em grupo, vc está certo.




RELAXE E PENDULE -

Eu prefiro gastar um domingo, nas serras, no PACE, que um domingo no autódromo, de tanto que é agradável. “Contra-esterço” é o nome do jogo, um toque suave, porém vigoroso no guidão, transferido aos pneus, e então para o quadro da motocicleta. O PACE foi certamente o que os projetistas tinham em mente ao evoluírem suas motos esportivas das competições para as ruas.



Mas a máquina não é o aspecto mais importante para andar no PACE, porque vc pode fazê-lo com qualquer engenhoca de duas rodas que pode fazer uma curva. Atitude é o aspecto mais importante do PACE; percebendo o amigo a frente, não como um concorrente, respeitando o seu direito de liderar o grupo e, ocasionalmente, dar-lhe crédito para suas habilidades de pilotagem. Você deve ter maturidade suficiente para limitar a sua velocidade nas retas para permitir que o grupo permaneça em contato, e para perceber que técnicas de autódromo como freadas tardias e tacômetro no vermelho pode gerar antipatia com o público e a polícia e, eventualmente, apresentar-lhe as leis implacáveis da gravidade. Quando o grupo chega ao destino após andar no PACE, ninguém se sente superado pelo colega, ou fica com a sensação de que ele deve provar algo na volta. Se você tem algo a provar, vá para o autódromo.



No autódromo medem sua velocidade com um cronômetro e pela competição direta com outros, acolhendo a sua agressividade e sua coragem de ser o melhor. O alto desempenho nas ruas é pedido pelo nível de diversão, não os décimos da volta, posição de chegada, ou número de competidores derrotados. As diferenças são enormes, mas nem sempre lembradas pelos pilotos que ainda não descobriram pureza das curvas no PACE e o companheirismo do grupo. Enrole o cabo no Autódromo. PACE-se na rua.

caracá que texto otimo mesmo, explica muito bem , pena que nao há um video para nso explicar mais ainda. Sabemos que técnicas existem e muitas vezes nos mostram o quao imprudentes somos, principalmente nas ruas e com este texto tende a nos explicar que pode se pilotar bem se ficarmos tenso num final de passeio ou mesmo, estarmos com opercoço tao duro que somente uma massagem tailandesa para faze-lo voltar ao normal, isto nao é um passeio e sim uma tortura, gostei mesmo valeu

PACE me soou como PEACE!!!

ótimo texto e achei muito interessante a técnica, mas concordo com o Catharino: um vídeo certamente deixaria as coisas mais claras pra nós, meros mortais, que ainda não sabemos tudo sobre motos...rs

Parabéns pela iniciativa....

Abraço

Muito legal Soares!
Só nos resta "PACE..AR" !! rs

Excelente texto!!!

Eu também fiquei meio na dúvida sobre essa técnica de fazer curvas. Mas de qualquer forma, o mais importante do texto é a atitude que devemos ter quando na estrada. Quando concentramos energia numa pilotagem mais primorosa, não temos vontade de sair enrolando o cabo igual loucos...

Parabéns Soares...

Show de bola o tópico...
A galera aqui ta em alta mesmo!!!

Reis, Soares, Flávio e porque não falar dos tópicos e comentários do DECAPA...

A galera ta de parabéns!!!